Procura-se um Ser Humano17
Ajudem nessa busca.
Cidadão de estatura mediana; cor indefinida; aproximadamente moreno; meio preto, meio branco, meio índio; o qual costuma persignar-se antes de mergulhar de um barranco no rio; pede ajuda a Deus para as mínimas decisões; dorme agarrado às saias de Nossa Senhora; se benze duas a três vezes antes de se levantar.
Procura-se um cidadão comum que tenha tomado Panvermina para expulsar lombrigas, quando criança; que já tenha feito várias limpezas nos intestinos com óleo de Rícino; use pílulas de vida de quando em vez; cuide dos rins com pílulas de lússem; que trate suas azias com Magnésia Bisurada; resolva dor-de-barriga com Elixir Paregórico; espante espíritos e mau-olhado com arruda e guiné; que trate suas bronquites com açúcar queimado e casca de laranja.
Procura-se alguém que acredite piamente em Deus e nos Santos todos; se preocupe com as almas do purgatório e reze para elas na hora de dormir; que dê esmolas na porta da igreja para agradar a Deus; preste atenção à missa; seja capaz de rezar um terço contritamente;
Que evite lugares mal-assombrados e apresse o passo ao passar por cemitérios.
Procura-se um cidadão muito antigo, para quem o respeito é um fundamento de vida; a honra uma virtude que deve ser mantida, revigorada e polida continuamente; a amizade observe a honra e o respeito, mas se componha também de amor e tolerância.
Procura-se um ser digno, trabalhador, batalhador e que ache importante ter amigos e companheiros; que vibre com o êxito dos outros, reconheça suas fraquezas sem se sentir derrotado.
Procura-se um pacificador capaz de se calar; de tecer elogios; de rir e chorar; de dar o conselho oportuno; de não desagregar e de se esforçar para unir.
Procura-se alguém que ouviu falar de bomba Atômica como algo distante e abstrato; imagine a guerra como coisa inútil; que não sabe onde a pátria começa ou acaba; não entende direito porque é que o governo manda; que cumpre a lei casualmente porque seu código de conduta se encaixa nela.
Procura-se um cidadão com marca de vacina anti-varíola, com a boca amarga de quina, com um leve bafo de pinga, com fígado palpável e dolorido; talvez com disfagia; talvez com obstipação intestinal ; com história de ofidismo, contato com o barbeiro, picado de escorpião, lacraia e formiga Cabo-Verde.
Um cidadão que já rezou nas tempestades, se afligiu com as estiagens; já perdeu; já bamburrou; nasceu de parto domiciliar; acompanhou enterros chorando; já riu vendo um filho nascer; campeou inutilmente um animal sumido, ajudou parto de bezerro, curou bicheiras.
Procura-se um cidadão que perambulou nas ruas da cidade; estudou em cursos noturnos; andou na chuva sem ter dinheiro para o ônibus; comeu o pão que o diabo amassou, com a melhor boca do mundo e agradecido.
Um cidadão que enquanto sobrevivia venceu, entendeu, tomou consciência. Ainda que essa consciência seja só um desconfiar confuso; que o entendimento seja mínimo e que a vitória seja quase um nada.
Procura-se esse transeunte que contém a essência de um povo.
Rilmar José Gomes - 07/08/1991
Leia mais: Blogs:Brasil Acadêmico e Ipameri Raizes Culturais
sábado, 31 de outubro de 2009
domingo, 25 de outubro de 2009
Da Vida a Vida Vi - Dia do Médico
Da Vida a Vida Vi - (Dia do Médico¬)
Sob esse título, que soa para mim como Davi, Davi, Davi; falo um pouco desse grande ipamerino que, assim como alguns outros, deveria ter um busto erigido em praça pública.
Talvez, Ipameri devesse ter uma praça dos grandes vultos e, nas escolas, um dia por ano, fosse dedicado todo o tempo de uma ou duas aulas para se falar nos grandes vultos ipamerinos.
Minha percepção do Dr. David Cosac, é a percepção do povo, do menino que eu era quando em 1947 foi eleito prefeito de Ipameri. Estava sendo eleito um jovem médico que fizera seu curso no Rio de Janeiro onde permanecera fazendo estágios e se especializando por mais dois anos.
Inteligentíssimo, entusiasmado, com uma grande capacidade de trabalho; esplêndida formação médica que aliada à inteligência, coragem, à capacidade de decisão e ao inconformismo com as limitações técnicas encontradas na cidade para o pleno exercício da prática médica em Ipameri; fez com se tornasse, a meu ver, o grande agente para mudanças e para o estabelecimento de condições que tornaram Ipameri um centro de referência e acolhimento para tratamento, do povo de Ipameri e de uma vasta região cujo raio talvez ultrapassasse duzentos quilômetros.
Em um tempo em que a saúde não era direito do povo, não existiam planos de saúde nem SUS ou qualquer outra via de acesso a um tratamento hospitalar para quem não podia pagar; a criação de um grande hospital, bem equipado, com equipe médica competente e com sentido de equipe; e, além disso, um Hospital que na origem já era uma Associação Benemérita, uma Hospital do povo e para o povo.
A pessoa que concebeu, liderou uma equipe de valorosos cidadãos, mobilizou o povo, peregrinou em busca de verbas, fez parte de todas as etapas do planejamento e da construção e, depois se dedicou de corpo e alma trabalhando como médico generalista cujo campo de atuação abrangia todas as áreas da medicina que iam desde a pediatria, passava pela cirurgia, ginecologia e obstetrícia, psiquiatria, trauma e ortopedia.
A pessoa que foi atrás de colegas usando sua imensa capacidade de convencimento para trazê-los para Ipameri; a pessoa que administrou o hospital cuidando para que tudo fosse bem feito, para que não faltassem material, remédios, lençóis, material de limpeza, instrumentos etc.
Essa pessoa não trabalhou sozinha. Aglutinou esforços. Liderou grandes inteligências, grandes capacidades. Catalizou Esforços. Direcionou ações para a conclusão de um objetivo. Formou um corpo de auxiliares, para o que chegou a mandar enfermeira fazer capacitação no Rio de Janeiro.
Para que não houvesse nenhuma possibilidade de que aquela obra não fosse inteiramente de toda a comunidade; ele, toda a equipe, todo o grupo de idealizadores criaram-na como entidade benemérita: Associação de Amparo à Maternidade e à Infância de Ipameri.
Tive algumas oportunidades de conhecer esse homem um pouco mais de perto. Uma delas era quando eu trabalhava na Tipografia Minerva e o jornal A Folha do Povo era impresso lá. Quase sempre ele ia lá comentar uma matéria ou a colocação de um clichê na matéria que ia ser publicada naquela semana e, assim, eu tinha oportunidade de ouvi-lo argumentar com grande clareza, brilhantismo e de modo às vezes combativo mas, no mais das vezes, alegre e camarada.
Depois, tive oportunidade de trabalhar por algum tempo na residência dele, onde eu auxiliava nos serviços gerais e tinha a função de buscar um galão de leite em uma chácara do Santinoni nas proximidades da cidade. Nessa época eu, certa vez, precisei de uma consulta médica e ele me atendeu com muita cortesia e eficiência. A residência dava fundos para o Hospital e ele, mal almoçava e já estava indo para o hospital. Era incansável.
Muitos anos depois, depois de muitas voltas do mundo e da vida, tive oportunidade de trabalhar com o agora meu colega David Cosac. Se eu já o admirava conhecendo-o de longe, quando trabalhamos juntos, pude testemunhar o idealista, o denodado, o desprendido, o grande colega que me acolheu, me orientou, confiou em mim, fez de tudo para manter uma equipe coesa no Hospital Maternidade de Jaraguá, que foi onde trabalhamos juntos. Quanto mais o conhecia , mais eu me reportava à Ipameri e entendia quem foi aquele grande médico e benfeitor que tinha opositores mas a cidade toda o via como um grande médico e a maioria da população o adorava.
Não vejo como não erigir um busto em praça pública para tão grande homem, tão notória figura humana.
Com você amigo, colega, ipamerino que me orgulha: Da Vida a Vida Vi.
Minha gratidão e admiração
Rilmar - 18.10.2009 –DIA DO MÉDICO
Sob esse título, que soa para mim como Davi, Davi, Davi; falo um pouco desse grande ipamerino que, assim como alguns outros, deveria ter um busto erigido em praça pública.
Talvez, Ipameri devesse ter uma praça dos grandes vultos e, nas escolas, um dia por ano, fosse dedicado todo o tempo de uma ou duas aulas para se falar nos grandes vultos ipamerinos.
Minha percepção do Dr. David Cosac, é a percepção do povo, do menino que eu era quando em 1947 foi eleito prefeito de Ipameri. Estava sendo eleito um jovem médico que fizera seu curso no Rio de Janeiro onde permanecera fazendo estágios e se especializando por mais dois anos.
Inteligentíssimo, entusiasmado, com uma grande capacidade de trabalho; esplêndida formação médica que aliada à inteligência, coragem, à capacidade de decisão e ao inconformismo com as limitações técnicas encontradas na cidade para o pleno exercício da prática médica em Ipameri; fez com se tornasse, a meu ver, o grande agente para mudanças e para o estabelecimento de condições que tornaram Ipameri um centro de referência e acolhimento para tratamento, do povo de Ipameri e de uma vasta região cujo raio talvez ultrapassasse duzentos quilômetros.
Em um tempo em que a saúde não era direito do povo, não existiam planos de saúde nem SUS ou qualquer outra via de acesso a um tratamento hospitalar para quem não podia pagar; a criação de um grande hospital, bem equipado, com equipe médica competente e com sentido de equipe; e, além disso, um Hospital que na origem já era uma Associação Benemérita, uma Hospital do povo e para o povo.
A pessoa que concebeu, liderou uma equipe de valorosos cidadãos, mobilizou o povo, peregrinou em busca de verbas, fez parte de todas as etapas do planejamento e da construção e, depois se dedicou de corpo e alma trabalhando como médico generalista cujo campo de atuação abrangia todas as áreas da medicina que iam desde a pediatria, passava pela cirurgia, ginecologia e obstetrícia, psiquiatria, trauma e ortopedia.
A pessoa que foi atrás de colegas usando sua imensa capacidade de convencimento para trazê-los para Ipameri; a pessoa que administrou o hospital cuidando para que tudo fosse bem feito, para que não faltassem material, remédios, lençóis, material de limpeza, instrumentos etc.
Essa pessoa não trabalhou sozinha. Aglutinou esforços. Liderou grandes inteligências, grandes capacidades. Catalizou Esforços. Direcionou ações para a conclusão de um objetivo. Formou um corpo de auxiliares, para o que chegou a mandar enfermeira fazer capacitação no Rio de Janeiro.
Para que não houvesse nenhuma possibilidade de que aquela obra não fosse inteiramente de toda a comunidade; ele, toda a equipe, todo o grupo de idealizadores criaram-na como entidade benemérita: Associação de Amparo à Maternidade e à Infância de Ipameri.
Tive algumas oportunidades de conhecer esse homem um pouco mais de perto. Uma delas era quando eu trabalhava na Tipografia Minerva e o jornal A Folha do Povo era impresso lá. Quase sempre ele ia lá comentar uma matéria ou a colocação de um clichê na matéria que ia ser publicada naquela semana e, assim, eu tinha oportunidade de ouvi-lo argumentar com grande clareza, brilhantismo e de modo às vezes combativo mas, no mais das vezes, alegre e camarada.
Depois, tive oportunidade de trabalhar por algum tempo na residência dele, onde eu auxiliava nos serviços gerais e tinha a função de buscar um galão de leite em uma chácara do Santinoni nas proximidades da cidade. Nessa época eu, certa vez, precisei de uma consulta médica e ele me atendeu com muita cortesia e eficiência. A residência dava fundos para o Hospital e ele, mal almoçava e já estava indo para o hospital. Era incansável.
Muitos anos depois, depois de muitas voltas do mundo e da vida, tive oportunidade de trabalhar com o agora meu colega David Cosac. Se eu já o admirava conhecendo-o de longe, quando trabalhamos juntos, pude testemunhar o idealista, o denodado, o desprendido, o grande colega que me acolheu, me orientou, confiou em mim, fez de tudo para manter uma equipe coesa no Hospital Maternidade de Jaraguá, que foi onde trabalhamos juntos. Quanto mais o conhecia , mais eu me reportava à Ipameri e entendia quem foi aquele grande médico e benfeitor que tinha opositores mas a cidade toda o via como um grande médico e a maioria da população o adorava.
Não vejo como não erigir um busto em praça pública para tão grande homem, tão notória figura humana.
Com você amigo, colega, ipamerino que me orgulha: Da Vida a Vida Vi.
Minha gratidão e admiração
Rilmar - 18.10.2009 –DIA DO MÉDICO
sábado, 10 de outubro de 2009
Homenagens a Grandes Ipamerinos
Meu respeito e Gratidão:
Da.Nazária (minha professora)
Dr David Cosac (amigo, colega, médico de minha família, ser extraordinário, benfeitor da cidade que merecia um busto em praça pública)
Da Maria Lemes Gomes (minha genitora, Mestra de incontáveis ipamerinos, Diretora do Grupo Escolar por várias vezes, educadora, mãe extremosa, cidadã exemplar);
Ozires Porto - (amigo, conselheiro, patrão na Tip. Minerva, Exemplo que em muitos aspectos segui, ser humano a quem muito devo);
(volto com mais vultos ipamerinos, em breve)
Da.Nazária (minha professora)
Dr David Cosac (amigo, colega, médico de minha família, ser extraordinário, benfeitor da cidade que merecia um busto em praça pública)
Da Maria Lemes Gomes (minha genitora, Mestra de incontáveis ipamerinos, Diretora do Grupo Escolar por várias vezes, educadora, mãe extremosa, cidadã exemplar);
Ozires Porto - (amigo, conselheiro, patrão na Tip. Minerva, Exemplo que em muitos aspectos segui, ser humano a quem muito devo);
(volto com mais vultos ipamerinos, em breve)
Incrível Reportagem - Chapéuzinho Vermelho X Lobo
Muitos anos depois, Chapeuzinho Vermelho entrevista o lobo, já no fim da vida:
- Então Lobo, como foi mesmo essa história de você ter comido minha avó e, depois, descomido quando viu que ia morrer?...
- Bem, disse o Lupus resignado, na verdade, a história é longa e tem muitos atenuantes a meu favor.
- Foi numa época de grande fome, de carestia, de miséria total no mundo dos bichos.
- Eu era novo, sem juízo; magro a ponto de ter a barriga grudada na coluna. Literalmente grudada. Os nós da coluna lombar podiam ser contados na superfície da barriga, o que dava a nítida impressão da chamada barriga de tanquinho.
- Eu jovem, faminto , sem juízo, influenciado pelas lendas da mocidade. Sua avó lisa, com uma boa dose de juventude ainda, rosada, robusta e vivendo sozinha na borda da mata.
- Imagine só!...
- Só imagine, não invente.
- Em mim a fome; nela a solidão e os restos de juventude.
- Na verdade, foi sua avó que me seduziu; no bom sentido , é claro.
- Todas as tardes eu passava ali por perto da casa dela e me deparava com algum prato de comida na janela.
- Ora, há entre os lobos um preceito secular A caça deu sopa, pule já nela.
- Mas, eu não pulei não, fiz foi ir me aproximando, todo dia um pouco mais até que tivemos, finalmente, um primeiro contato. Tudo por iniciativa dela.
- Sua avó tinha pele alva, mãos atraentes e um cheiro bom para quem é lobo.
- A tarde morria lentamente. Eu também morria lentamente só que de fome. O jardim da porta da casa estava descuidado, mas tinha flores e era bonito.
- Sua avó, cheinha, cheirosa e procurando parecer bondosa sentou-se no limiar da porta da casa; mais para casebre do que para casa; e estalava os dedos, assim como quem chama cachorro.
- Eu não sou cachorro não, mas a fome, a minha própria solidão, a natureza predadora dos lobos, a inspiração e a desesperança que o fim do dia traz aos lobos, tudo me empurrava para uma atitude de submissão.
- Fui chegando de mansinho, humilde, de orelhas murchas, cauda rebatida quase entre as pernas, ganindo baixinho e aceitei um naco de torta de galinha que ela me ofereceu.
- Toma lobinho; ainda me lembro da doçura daquela voz; coma, não precisa ter medo da vovó. Não tem perigo, a vovó não vai comer você!
- Nessa de “a vovó não vai comer você”, fui me aproximando cada dia mais. Foi, lenta e paulatinamente, se estabelecendo um forte elo entre aquelas duas almas, uma boa a outra faminta; ambas solitárias.
- Cada dia eu vinha mais cedo beirar a casa em busca daquele contato, dos afagos carinhosos que ela me dava, da voz doce e suave e da comida fácil.
- Comecei a querer aquela bondosa criatura só para mim.
- Estava tão envolvido que, de certa feita, passei uma manhã inteira demarcando o terreno que cercava a casa. Lobo demarca as coisas com xixi, não é? Fui urinando calculadamente, pouquinho a pouquinho até contornar toda a área em torno da morada dela.
- Essa ninguém me toma, pensei eu, cá comigo. (sempre no bom sentido)
- Com o passar do tempo descobri que outros seres visitavam a casa: Uns caçadores barulhentos e de odor horrível; um casal que raramente aparecia e, você, uma menininha que vinha cantarolando distraída e trazia sempre uma cestinha com alguma comida cheirosa.
- A velhinha, que não era tão velha, continuava cada vez mais carinhosa; a comida sempre deliciosa; eu, deitando e rolando com os afagos que recebia.
- Aí, vendo aqueles outros seres freqüentando a casa, principalmente os caçadores fedorentos; uma onda de ciúmes me invadiu, me percorreu, me dominou.
- Sou lobo, mas não sou bobo.
- Um lobo tem sempre uma fera dentro de si.
- Arquitetei, então, um plano para ter aquela velhinha só para mim.
- Disfarcei o trieiro que a menina distraída costumeiramente percorria para que ela se perdesse. Isso a atrasou e a levou a inventar um diálogo comigo que na realidade nunca ocorreu. Juro que sou inocente.
- Raptei a conservada matrona que, ao não oferecer qualquer resistência, descaracterizou o rapto. Posso até dizer que ela simplesmente me acompanhou.
- Na verdade eu não comi sua avó. Não, eu nunca a conseguiria engolir inteira e não queria fazer isso. Apenas a raptei e escondi na mata.
- É claro, disse a repórter batendo na testa. Aqueles caçadores só podem ter inventado. Histórias de caçadores... E tanta gente, por tanto tempo acreditou.
Continuando, voltou a perguntar:
- Por que você me enganou fingindo que era minha avó e, ao final, me atacou fazendo-me correr apavorada em busca dos caçadores?
O lobo continuou respondendo:
- Eu queria ganhar tempo. Entre os lobos há um grande respeito por filhotes. Minha intenção básica era ganhar sua confiança e tentar explicar tudo. Não sou bom ator. É 'deznecessário' dizer que não sou 'o melhor do mundo', foi uma idéia 'insana' que tomou conta de mim. Ciúme de lobo é fogo.
- Uma vez descoberto você,então uma menininha, correu assustada e eu corri atrás tentando me explicar, daí os caçadores apareceram e me capturaram.
- Longe de você, aqueles brutamontes me submeteram a angustiantes torturas (anote aí para a campanha de Tortura Nunca Mais): Me açoitaram, pinçaram minha língua, comprimiram meus testículos, torceram minha cauda,tais e tantas fizeram que eu acabei confessando, esse e muitos outros crimes que eles iam me sugerindo e eu só acenava que sim com a cabeça.
- Levei-os ao esconderijo e, de lá, não sei se contra a vontade dela; trouxeram, sua avó limpinha, seca e cheirosa e inventaram essa história de que a tiraram de minha barriga.
- Tem cabimento uma história dessas? Eu sequer tenho barriga!
- É melhor você acreditar na minha história.
Chapeuzinho concordou anuindo com um gesto e manifestando simpatia com uma expressão facial.
Em tempo: - Dê notícias minha à sua avó. Diga que peço desculpas; estou sempre por aqui; nunca a esqueci. Concluiu o lobo já se afastando em direção a uma grande área desmatada.
Em 04.10.2009
Rilmar
- Então Lobo, como foi mesmo essa história de você ter comido minha avó e, depois, descomido quando viu que ia morrer?...
- Bem, disse o Lupus resignado, na verdade, a história é longa e tem muitos atenuantes a meu favor.
- Foi numa época de grande fome, de carestia, de miséria total no mundo dos bichos.
- Eu era novo, sem juízo; magro a ponto de ter a barriga grudada na coluna. Literalmente grudada. Os nós da coluna lombar podiam ser contados na superfície da barriga, o que dava a nítida impressão da chamada barriga de tanquinho.
- Eu jovem, faminto , sem juízo, influenciado pelas lendas da mocidade. Sua avó lisa, com uma boa dose de juventude ainda, rosada, robusta e vivendo sozinha na borda da mata.
- Imagine só!...
- Só imagine, não invente.
- Em mim a fome; nela a solidão e os restos de juventude.
- Na verdade, foi sua avó que me seduziu; no bom sentido , é claro.
- Todas as tardes eu passava ali por perto da casa dela e me deparava com algum prato de comida na janela.
- Ora, há entre os lobos um preceito secular A caça deu sopa, pule já nela.
- Mas, eu não pulei não, fiz foi ir me aproximando, todo dia um pouco mais até que tivemos, finalmente, um primeiro contato. Tudo por iniciativa dela.
- Sua avó tinha pele alva, mãos atraentes e um cheiro bom para quem é lobo.
- A tarde morria lentamente. Eu também morria lentamente só que de fome. O jardim da porta da casa estava descuidado, mas tinha flores e era bonito.
- Sua avó, cheinha, cheirosa e procurando parecer bondosa sentou-se no limiar da porta da casa; mais para casebre do que para casa; e estalava os dedos, assim como quem chama cachorro.
- Eu não sou cachorro não, mas a fome, a minha própria solidão, a natureza predadora dos lobos, a inspiração e a desesperança que o fim do dia traz aos lobos, tudo me empurrava para uma atitude de submissão.
- Fui chegando de mansinho, humilde, de orelhas murchas, cauda rebatida quase entre as pernas, ganindo baixinho e aceitei um naco de torta de galinha que ela me ofereceu.
- Toma lobinho; ainda me lembro da doçura daquela voz; coma, não precisa ter medo da vovó. Não tem perigo, a vovó não vai comer você!
- Nessa de “a vovó não vai comer você”, fui me aproximando cada dia mais. Foi, lenta e paulatinamente, se estabelecendo um forte elo entre aquelas duas almas, uma boa a outra faminta; ambas solitárias.
- Cada dia eu vinha mais cedo beirar a casa em busca daquele contato, dos afagos carinhosos que ela me dava, da voz doce e suave e da comida fácil.
- Comecei a querer aquela bondosa criatura só para mim.
- Estava tão envolvido que, de certa feita, passei uma manhã inteira demarcando o terreno que cercava a casa. Lobo demarca as coisas com xixi, não é? Fui urinando calculadamente, pouquinho a pouquinho até contornar toda a área em torno da morada dela.
- Essa ninguém me toma, pensei eu, cá comigo. (sempre no bom sentido)
- Com o passar do tempo descobri que outros seres visitavam a casa: Uns caçadores barulhentos e de odor horrível; um casal que raramente aparecia e, você, uma menininha que vinha cantarolando distraída e trazia sempre uma cestinha com alguma comida cheirosa.
- A velhinha, que não era tão velha, continuava cada vez mais carinhosa; a comida sempre deliciosa; eu, deitando e rolando com os afagos que recebia.
- Aí, vendo aqueles outros seres freqüentando a casa, principalmente os caçadores fedorentos; uma onda de ciúmes me invadiu, me percorreu, me dominou.
- Sou lobo, mas não sou bobo.
- Um lobo tem sempre uma fera dentro de si.
- Arquitetei, então, um plano para ter aquela velhinha só para mim.
- Disfarcei o trieiro que a menina distraída costumeiramente percorria para que ela se perdesse. Isso a atrasou e a levou a inventar um diálogo comigo que na realidade nunca ocorreu. Juro que sou inocente.
- Raptei a conservada matrona que, ao não oferecer qualquer resistência, descaracterizou o rapto. Posso até dizer que ela simplesmente me acompanhou.
- Na verdade eu não comi sua avó. Não, eu nunca a conseguiria engolir inteira e não queria fazer isso. Apenas a raptei e escondi na mata.
- É claro, disse a repórter batendo na testa. Aqueles caçadores só podem ter inventado. Histórias de caçadores... E tanta gente, por tanto tempo acreditou.
Continuando, voltou a perguntar:
- Por que você me enganou fingindo que era minha avó e, ao final, me atacou fazendo-me correr apavorada em busca dos caçadores?
O lobo continuou respondendo:
- Eu queria ganhar tempo. Entre os lobos há um grande respeito por filhotes. Minha intenção básica era ganhar sua confiança e tentar explicar tudo. Não sou bom ator. É 'deznecessário' dizer que não sou 'o melhor do mundo', foi uma idéia 'insana' que tomou conta de mim. Ciúme de lobo é fogo.
- Uma vez descoberto você,então uma menininha, correu assustada e eu corri atrás tentando me explicar, daí os caçadores apareceram e me capturaram.
- Longe de você, aqueles brutamontes me submeteram a angustiantes torturas (anote aí para a campanha de Tortura Nunca Mais): Me açoitaram, pinçaram minha língua, comprimiram meus testículos, torceram minha cauda,tais e tantas fizeram que eu acabei confessando, esse e muitos outros crimes que eles iam me sugerindo e eu só acenava que sim com a cabeça.
- Levei-os ao esconderijo e, de lá, não sei se contra a vontade dela; trouxeram, sua avó limpinha, seca e cheirosa e inventaram essa história de que a tiraram de minha barriga.
- Tem cabimento uma história dessas? Eu sequer tenho barriga!
- É melhor você acreditar na minha história.
Chapeuzinho concordou anuindo com um gesto e manifestando simpatia com uma expressão facial.
Em tempo: - Dê notícias minha à sua avó. Diga que peço desculpas; estou sempre por aqui; nunca a esqueci. Concluiu o lobo já se afastando em direção a uma grande área desmatada.
Em 04.10.2009
Rilmar
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Alma Vazia
Alma Vazia
Venha ver a minha alma,
Vem conhecê-la por dentro,
Penetra na minha mente,
Vem ler o meu pensamento.
Minha alma é muito triste,
Às vezes triste e vazia,
Tem a tristeza do triste,
Em noite de Nostalgia.
Meu coração, retrato fiel
Desta alma moribunda,
Pulsa em lúgubre compasso,
Tristonho sangue o inunda
Eu sou como alguém que morre
E no ermo mundo do além,
Escuta procura e busca;
Tenta ver, não vê ninguém.
Perdido em um mundo estranho,
Sozinho com o seu penar,
Senta-se em seu próprio túmulo,
E passa a noite a chorar.
É essa a alma que tenho
Absorta, tola, perdida;
Sempre a procura de algo
Muito longe dessa vida.
Busca a Deus a minha alma?
Busca a luz de um olhar?
Ou procura, simplesmente,
Um motivo para chorar?
Se alguma alegria tenho,,
Quando mais dela preciso,
É a que me vem de ti
E doas com teu sorriso
E de ver esse sorriso
Que eu julgava ser só teu,
Nas bocas angelicais
Dos filhos que Deus nos deu.
Rilmar (1970)
Venha ver a minha alma,
Vem conhecê-la por dentro,
Penetra na minha mente,
Vem ler o meu pensamento.
Minha alma é muito triste,
Às vezes triste e vazia,
Tem a tristeza do triste,
Em noite de Nostalgia.
Meu coração, retrato fiel
Desta alma moribunda,
Pulsa em lúgubre compasso,
Tristonho sangue o inunda
Eu sou como alguém que morre
E no ermo mundo do além,
Escuta procura e busca;
Tenta ver, não vê ninguém.
Perdido em um mundo estranho,
Sozinho com o seu penar,
Senta-se em seu próprio túmulo,
E passa a noite a chorar.
É essa a alma que tenho
Absorta, tola, perdida;
Sempre a procura de algo
Muito longe dessa vida.
Busca a Deus a minha alma?
Busca a luz de um olhar?
Ou procura, simplesmente,
Um motivo para chorar?
Se alguma alegria tenho,,
Quando mais dela preciso,
É a que me vem de ti
E doas com teu sorriso
E de ver esse sorriso
Que eu julgava ser só teu,
Nas bocas angelicais
Dos filhos que Deus nos deu.
Rilmar (1970)
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
O Prego e o Martelo
Um prego e um martelo jaziam lado a lado, a cerca de uns cem metros de uma hidrelétrica em construção.
Quase ao mesmo tempo, perceberam uma inscrição nítida e tosca numa parede e que dizia:
Quando Você for martelo, não se esqueça de que já foi prego!...
O Martelo leu, não disse nada e continuou em sua inércia. O prego, no entanto, deu a maior importância à mensagem e principiou a refletir na dura missão dele, prego, que implantado a duras marteladas bem aplicadas em sua cabeça penetraria, lenta e sofridamente, no madeiramento até desaparecer quase por completo, quando então ficaria sustentando toda uma armação pesadíssima de caibros e tábuas, no mais completo anonimato.
E, ai dele se apresentasse qualquer folga, por mínima que fosse, porque prontamente alguém perceberia e novas e contundentes marteladas o recolocariam no seu humilde e devido lugar.
Ah! Martelo, disse o Prego, depois de relatar seu pensamento; não queira nunca ser prego.
O Martelo refletiu por dois segundos e respondeu:
Meu amigo; não pense que eu já nasci martelo. Não meu caro, eu já fui minério como você foi, passei por uma fundição, fui um valoroso prego na construção da usina de Tucuruí; sustentei orgulhosamente as tábuas que escoraram trechos das barragens de cimento e aço; depois fui rejeito, quase lixo; fui colhido e levado para Brasília onde fixei tábuas de barracos de úteis candangos (pregos humanos); tempos depois, virei lixo mesmo e fui catado por catadores de lixo, selecionado e remetido a uma fundição de reciclagem, quando então, junto com outros pregos, virei uma massa amorfa e posteriormente tomei a forma atual de martelo.
Sou martelo mas sei que formamos um par na lida; par sumamente importante e indissolúvel pois todo trabalho é digno, toda função é importante e, nem um de nós atua ou é útil sem o outro.
De que vale o prego sem o martelo?... Qual é a utilidade do martelo sem o prego?
Assim também, nós, seres humanos, deveríamos sempre refletir na interdependência que existe entre nós e no quão importante é, que saibamos ver a importância de nosso próximo e a nossa própria sem exagerarmos ou desmerecermos uma ou outra sem razão.
A escada por onde se sobe é a mesma por onde se desce.
Rilmar J. Gomes
Quase ao mesmo tempo, perceberam uma inscrição nítida e tosca numa parede e que dizia:
Quando Você for martelo, não se esqueça de que já foi prego!...
O Martelo leu, não disse nada e continuou em sua inércia. O prego, no entanto, deu a maior importância à mensagem e principiou a refletir na dura missão dele, prego, que implantado a duras marteladas bem aplicadas em sua cabeça penetraria, lenta e sofridamente, no madeiramento até desaparecer quase por completo, quando então ficaria sustentando toda uma armação pesadíssima de caibros e tábuas, no mais completo anonimato.
E, ai dele se apresentasse qualquer folga, por mínima que fosse, porque prontamente alguém perceberia e novas e contundentes marteladas o recolocariam no seu humilde e devido lugar.
Ah! Martelo, disse o Prego, depois de relatar seu pensamento; não queira nunca ser prego.
O Martelo refletiu por dois segundos e respondeu:
Meu amigo; não pense que eu já nasci martelo. Não meu caro, eu já fui minério como você foi, passei por uma fundição, fui um valoroso prego na construção da usina de Tucuruí; sustentei orgulhosamente as tábuas que escoraram trechos das barragens de cimento e aço; depois fui rejeito, quase lixo; fui colhido e levado para Brasília onde fixei tábuas de barracos de úteis candangos (pregos humanos); tempos depois, virei lixo mesmo e fui catado por catadores de lixo, selecionado e remetido a uma fundição de reciclagem, quando então, junto com outros pregos, virei uma massa amorfa e posteriormente tomei a forma atual de martelo.
Sou martelo mas sei que formamos um par na lida; par sumamente importante e indissolúvel pois todo trabalho é digno, toda função é importante e, nem um de nós atua ou é útil sem o outro.
De que vale o prego sem o martelo?... Qual é a utilidade do martelo sem o prego?
Assim também, nós, seres humanos, deveríamos sempre refletir na interdependência que existe entre nós e no quão importante é, que saibamos ver a importância de nosso próximo e a nossa própria sem exagerarmos ou desmerecermos uma ou outra sem razão.
A escada por onde se sobe é a mesma por onde se desce.
Rilmar J. Gomes
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